domingo, dezembro 3

Como é possível algum dos nossos estudiosos dizer: "quem fala a verdade, nada consegue"!

Como é possível algum dos nossos estudiosos dizer: "quem fala a verdade, nada consegue"! Que não seja o que ele pensa fica a dúvida, bem pode generalizar algo sensasionalista, mas ... isto é algo mais importante que a subtileza!

Fim de Novembro e inicio de Dezembro, é a altura daquelas caras de colegas mais chateados com a vida ou deprimidos do que o usual! E como se contagia! Foge, foge .... Junte-se a isso um subordinado que decidiu meter baixa, e os colegas dele a contribuir entusisticamente para a fogueira! Triste espetaculo que só a muito custo se consegue estancar e desincentivar este
maior desporto nacional, como só um Don Quixote. Portugal bem precisa de uma eficiente lei contra o assédio moral e seus adeptos ou será anti-cultural fazer isso?!

Que fazer? Por mais que a vida nos possa sorrir, por mais que nos esforcemos para construir uma envolvente alegre e dinamizadora de boas vontades, cá vêm estes novos velhos do Restelo! Será que alguma vêz nos veremos livres desses espécimes, ou é uma fatalidade do nosso destino português?!

Tentando mudar de assunto, e pelo interesse que neste homem despertou o tema, tira-se para o corrente post uma afirmação de Jaime Milheiro (a propósito dos colóquios do Porto 17-18Nov2006 Fundação António Almeida) ao JN (segundo o JN, claro!):
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"A verdade, porém, é que nunca se mentiu tanto como agora ... Seja para prejudicar outrem, enaltecer o ego ou omitir uma verdade inconveniente ou dolorosa, a mentira é aprendida na infância e faz parte do processo de crescimento. Pode até ser " remédio para inúmeras complicações, dores e sofrimentos". Está de tal forma vulgarizada, que se chegou ao paradoxo que "quem fala a verdade, nada consegue" (como pode um estudioso afirmar isto? Será que devo dar atenção a uma só mais palavra deste senhor? Bem, acho que consigo perceber onde ele quer chegar ... ;-) ), enquanto o engano parece ... diplomacia. **********************************************************************

Como pode um eminente estudioso afirmar isto?!

Bah!Então a mentira não alucina o próprio e invalida o valor de quem a recebe reduzindo-o? Não é uma fonte de destruição de relações, uma postura destrutiva da essencia da vida em sociedade onde confiamos nos outros para sobrevivermos e satisfazermos algumas das necessidades básicas? Porque temos de aceitar passivamente a mentira e viver quotidianamente com
ela e as suas consequencias! É outra inevitável fatalidade da natureza portuguesa ou humana? Vamos acreditar em mentiras saudáveis?

Este blog já conta com um ano. Decisões e também hesitações de um novo quotidiano agora finalmente saíndo de um labirinto que se transformara de divertido em pesadelo do tipo que numca mais termina! E agora, com o que sobra toca a construir algo digno e entusiasmante ...(Será justificação para um mês sem aqui vir registar alguns pensamentos e acontecimentos? Talvez não o suficiente).

O alívio da decisão tomada é imenso e revigorante. As certezas vão-se juntando e construindo as fundações de uma nova construção. As hesitações são as usuais de quem quer fazer o melhor que sabe. Mas não haja dúvidas, é precisa muita coragem!

Os obstáculos cá vão aparecendo donde menos um idealista espera. A pessoa que se acredita ser diferente de tantos outros, pode mesmo virar monstro nos seus actos, por instantes destapar entre fingimentos a cara de ódio de morte e gostar de encenar um drama de vítima que mais não é que vitima de quem não quer assumir a sua responsabilidade pela vida e compromissos. Tanto para quê?

Por fim, queria deixar aqui uma nota de apreço ao esforço de Hugo Cardinalli que mais uma vez apresenta um espetáculo de qualidade a Lisboa. Está no Parque das Nações (na realidade no extremo norte, já depois de passarmos pelos pilares da ponte Vasco da Gama) e onde é fácil estacionar e sem pagar. São três horas bem passadas quase sem pausas a assistir a malabarismos e palhaços que fazem rir. A um preço acessível.

terça-feira, outubro 31

Historicamente falando ser mulher é hoje bem mais fácil que no passado! E daí ?

Concordo plenamente com a observação do Augusto (Klepsidra) que a Experiência Ned se trata de uma farsa para fazer figura. E fez ... Na sequência do post anterior cá se volta ao tema de ser homem sem discutir compreensões do feminino ao masculino, pois definitivamente nós ainda (?) não nos compreendemos o necessário.

É no entanto de realçar que muito disto gira em torno do tema: "Ser homem, hoje em dia".

Um exemplo disso está na incontornável violência doméstica. Óbviamente da culpa do homem.

Nada mais sexista! Só uma pessoa cega pode acreditar nisso, pois quase todos os homens sabem que elevadissima % dos homens violentos apresentam problemas (alcoolismo, de drogas e/ou problemas psicológicos). E, idem com as mulheres. Já olharam para a dados actuais de violência sobre as crianças praticada por mulheres. Quem sabe do assunto refere que a violência na mulher tem crescido de forma inesperada e encapotada muitas vezes por um rotulo de vitima e oprimida. Alguns estudos (não me peçam para referir) referem elevadissimos numeros de violência iniciada por mulheres e incitação do homem à violência. E historicamente falando ser mulher é hoje bem mais fácil que no passado! E daí ... parece que talvez não.

Este homem condena todo o tipo de violência, pois a violência gratuíta ou não é contra tudo o que se evoluiu como espécie e que a destingue das outras. Quem quer resolver os seus problemas com violência ... decida se é isso mesmo que quer.

Ser mulher ou ser homem nunca foi fácil mas este é o momento em que historicamente falando ser mulher é mais fácil. Alguém me desmente? E está a ser usado o momento para quê?

Algumas usam todos os recursos à sua disposição ( e outros que não têm) procurando alcançar a perfeição estética e um pouco mais no dilema beleza versus inteligência, emancipação e liberdade. Porque não? Mas colocando-se como vitimas não ajuda a nimguém. Mas há algum homem com tempo para compreender que a mãe, avó, bisavó, etc foi oprimida pelos respectivos e agora alguém tem que pagar? Não! Mulheres, estes homens gostariam de disfrutar o vosso melhor momento com elevação e dignidade. Não venham cobrar ... nada de caça às bruxas, ou devo dizer bruxos?

Um brinde a todos os que se estão nas tintas para o politicamente correcto que nos prejudica e muitos cega!

segunda-feira, outubro 23

Experiência Ned - O que significa ser um HOMEM

As novas atribulações de uma nova caminhada têm-me afastado um pouco da escrita para o Blog mas cá continuo a vir e aqui fica mais algo que me despertou a curiosidade neste entretanto.

Merece destaque pelo arrojo e originalidade o livro de uma mulher (a jornalista Norah Vincent, que calça sapatos 11 1/2 == 45) que descreve a sua experiência como homem durante 18 meses no que ela chama uma experiência cultural de observação "incógnita" do que significa ser HOMEM.



O resultado é um livro que tem recebido muita atenção no Brasil (em Julho 2006), mas curiosamente nenhuma em Portugal - tanto quanto se perceba! A conclusão de Norah Vincent no livro é que o homem é bem melhor - e bem pior - do que muitas mulheres alguma vez imaginaram. Grande conclusão ;-).

Também encontram-se bastante comentários negativos pela net, como por exemplo o que junto de uma brasileira: "E essa besta jornalista norte americana Norah Vincent quer que eu tenha pena de homens porque não choram... Eles não choram mas abandonam esposas doentes, passam a vida transando com todo mundo na moita e são coitadinhos??? Será que eu enlouqueci????"

A este comentário gostava de juntar um caso que conheci faz pouco tempo de uma pessoa que vivia em união com uma mulher que quando o apanhou no IPO conseguiu convencê-lo antes da operação a passar o apartamento dele para o nome dela e autorizar a movimentação de contas. Tal decorreu com toda a legalidade incluindo a presença médica e legal a verificar a lucidez no acto. Enquanto esteve no hospital numca mais recebeu a visita da tal mulher e hoje o homem está sem casa e sem tostão com os advogados a dizerem-lhe que muito dificilmente recupera seja o que fôr. O pouco que tem vai gastá-lo na tentativa de recuperação, enquanto a família o apoia mas não deixa de o lembrar o quão parvo foi!

Outra referência é a entrevista na Veja online que copio:
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Em 2003, a americana Norah Vincent pediu licença de seu posto de colunista do jornal Los Angeles Times para devotar-se a um projeto inusitado. Por quase dois anos, ela trocou sua identidade feminina pela de um homem. Com um disfarce meticulosamente elaborado, da barba artificial ao tom de voz, Norah – que é filósofa por formação – infiltrou-se em vários ambientes masculinos. Ela conviveu com homens da classe operária numa liga de boliche, freqüentou clubes de strip-tease, internou-se num mosteiro, trabalhou numa empresa de vendas e integrou-se a machões em crise num grupo de terapia. Seu objetivo era investigar o comportamento e a psicologia dos homens pelo ponto de vista de um observador de fora desse universo. O resultado é narrado no livro Feito Homem (tradução de Magda Lopes; Planeta; 305 páginas; 34,90 reais), que fez sucesso nos Estados Unidos e agora chega ao Brasil. Norah (nas fotos acima, como mulher e homem) trouxe à tona impressões reveladoras sobre as diferenças entre os sexos, a crise da masculinidade e as próprias mulheres. Nessa entrevista, ela conta suas aventuras como Ned, seu alter ego masculino.

Veja – Os homens são mesmo ruins como se fala?
Norah – Ao ver de perto como os homens se comportam, desmontei a idéia muito propalada entre as mulheres de que tudo na vida é mais fácil para eles. Essa descoberta, confesso, foi um choque. A condição sexual sempre foi vista como um peso muito maior para as mulheres do que para os homens. As feministas queimaram sutiãs nos anos 60 para exorcizar isso. Mas os homens também têm de corresponder a tudo que se espera deles, o que pode resultar numa ansiedade brutal. Está na hora de eles tomarem consciência de quanto as expectativas sociais – inclusive das mulheres em relação a eles – os limitam. As feministas podem torcer o nariz para essa idéia, mas eu vi a situação de perto e acho que é preciso ser dito. De fato, toda essa experiência mudou a minha visão sobre os homens. Hoje tenho muito mais simpatia por eles e sei interpretar atitudes que antes não compreendia, por confundi-las com arrogância ou insensibilidade.

Veja – O homem de hoje lida de forma mais relaxada com os valores da masculinidade?
Norah – Fala-se muito nos metrossexuais, os homens que não têm medo de se mostrar sensíveis. Mas as expectativas em relação aos homens são as mesmas desde sempre: autocontrole emocional, convicções firmes, independência. Ou seja: eles não devem demonstrar fraqueza ou carência em público. Um homem também não é considerado pleno se não for bem-sucedido no trabalho – por mais que se relevem suas falhas nesse campo, ele será menos que um homem se não for assim. A verdade é que, para um homem vencer na vida, os valores tradicionais ainda são o parâmetro.

Veja – Como a senhora percebeu isso durante sua experiência como Ned?
Norah – Tome um velho atributo enaltecido pelos machões: a postura incisiva. Na pele de Ned, descobri que os que exibem esse traço tendem a ser mais respeitados e a obter mais o que querem. No ambiente de trabalho, espera-se que os homens briguem de forma agressiva por seu espaço e nunca demonstrem falta de confiança. Eles, obviamente, também sentem suas fraquezas e têm dúvidas existenciais. Mas aprenderam que um dos itens mais valiosos para a sobrevivência é a capacidade de exibir uma couraça de autoconfiança. Quanto mais conseguem ser convincentes, mais as coisas ficam sob seu controle, pois as pessoas passam a acreditar nisso e a lhes delegar mais responsabilidades. As mulheres têm muito que aprender com isso. Depois de observá-los, eu mesma me dei conta de quanto vivia pedindo desculpas e me diminuindo perante os outros.

Veja – A senhora diz que os homens, nas últimas décadas, foram colocados numa posição defensiva e muitas vezes cultuam os valores masculinos de forma envergonhada. Quais as conseqüências disso?
Norah – O homem goza de péssima reputação nos dias de hoje. O mundo tende a ver a masculinidade como um desvio politicamente incorreto, assim como vê os brancos ocidentais como vilões por terem colonizado outros povos. Não faltam advogados de defesa dos negros e das lésbicas, mas o macho branco ocidental – e heterossexual, claro – é sempre demonizado. Espero que meu trabalho ajude a ver que é uma bobagem enxergar o mundo por esse prisma estreito. Em minha opinião, é preciso, sim, alargar os horizontes do que se convencionou chamar de valores masculinos. Mas é um absurdo propor a simples extinção deles, como parecem pregar algumas de minhas colegas feministas.

Veja – Como foi possível se passar por homem por quase dois anos sem que seu disfarce fosse notado?
Norah – Tenho traços físicos que, provavelmente, tornaram esse disfarce mais fácil para mim do que seria para a maioria das mulheres. Sou, por exemplo, uma mulher alta. Mas nada disso teria sido suficiente se eu não tivesse feito um esforço excruciante para acreditar na persona que estava encarnando. Se eu não tivesse incorporado a psicologia de Ned, minha versão masculina, não adiantaria ter o melhor dos disfarces: as pessoas perceberiam a farsa com um simples golpe de olhos.

Veja – Quais foram os maiores desafios para não trair sua identidade?
Norah – Do ponto de vista da caracterização, foi acertar o tom de voz, sem dúvida. Sempre tive um timbre grave, mas uma professora da Juilliard School (escola de música nova-iorquina) me ensinou formas de respiração e ritmo que fazem toda a diferença entre os sexos. Os homens tendem a usar palavras mais curtas e costumam esgotar todo o ar dos pulmões numa frase, enquanto as mulheres têm uma respiração mais entrecortada, o que dá maior dramaticidade ao que falam. Mas a parte mais dura de minha empreitada foi conviver com os homens. Comportar-me como um rapaz num meio 100% masculino revelou-se incrivelmente difícil, pois tive de aprender a sufocar minhas emoções.

Veja – Por quê?
Norah – O jeito emotivo que as mulheres têm de encarar o mundo e se relacionar com as pessoas é algo que não encontra lugar entre os homens, assim como nossas expectativas em relação aos outros são bem diferentes. Ao contrário das mulheres, que não se cansam de exprimir o que sentem, os homens são criaturas fechadas que se entendem entre si muitas vezes por meio de não mais que resmungos – ou mesmo o silêncio, como comprovei ao participar de uma liga de brutamontes que jogavam boliche. Sofri rejeição, porque os homens com quem convivi volta e meia implicavam com meu jeito hesitante e tentavam me corrigir. Eles às vezes achavam que havia algo de errado comigo, porque eu não estava agindo do modo que consideravam normal num macho. Mas na maior parte do tempo meu disfarce funcionou perfeitamente. Quando eu ia a bares ou estava numa roda de amigos, eles falavam das mulheres na minha frente de um modo franco como nunca falariam se soubessem meu verdadeiro sexo. Eu me senti como uma espiã infiltrada no sindicato do crime.

Veja – Como Ned, a senhora viveu várias experiências de paquera. É mais fácil ser homem ou mulher nessa hora?
Norah – De forma geral, é mais fácil ser mulher. Pela natureza da vida social, as mulheres têm de fazer menos esforço para se arranjar – é só esperar até que os caras se aproximem e façam a corte. Se eles tiverem a sorte de não levar um fora, precisarão ainda gastar muita conversa – além de pagar a conta – antes de chegar aos finalmentes. Como constatei ao buscar uma namorada, lidar com a rejeição é um dado inescapável na vida dos homens. Deparei com sujeitos que aprenderam com os pais um velho mandamento da masculinidade: um homem de verdade não desiste nunca, não importa quantos foras tome.

Veja – Não é ilusório achar que as mulheres estão menos sujeitas à rejeição?
Norah – Elas também têm dificuldades, mas esse é um dos campos em que os homens se sentem menos poderosos que as mulheres. Ao ver de perto as agruras dos rapazes, percebi que as mulheres poderiam tirar mais vantagem de sua posição. Elas não imaginam o poder que suas opiniões têm sobre a auto-estima masculina.

Veja – O que foi mais complicado: ir a um clube de strip-tease ou achar uma namorada?
Norah – Passei poucas e boas em busca de uma namorada, mas nada se compara às experiências nos clubes. Foi deprimente ir a lugares desse tipo. Trata-se de um lado obscuro – e mal resolvido – da vida masculina. Não há novidade, é claro, no fato de os homens pagarem prostitutas para satisfazer um impulso meramente físico. Sei que é complicado para eles se abrir com suas mulheres ou namoradas sobre suas fantasias sexuais – 99% delas não entenderiam. Foi chocante, contudo, descobrir que esse ritual muitas vezes é só uma válvula de escape para uma vida vazia e cheia de hipocrisia – ou mesmo uma forma de afirmação perante os amigos. Um dos homens que conheci deixava a mulher com câncer terminal em casa e ia a um clube. Eu me surpreendi ao ver como é comum que maridos dedicados freqüentem inferninhos pela vida inteira, sem que a esposa desconfie.

Veja – E qual a sua impressão sobre arranjar uma namorada?
Norah – Um dos objetivos óbvios de meu estudo era obter uma visão feminina do universo dos homens. Mas a experiência também serviu para que eu visse traços nas mulheres que nunca havia percebido. Como Ned, cortejei uma trintona que era o estereótipo da mulher mal-amada. Ela fazia tudo para repelir seus pretendentes, como falar de casos que não deram certo e mostrar fotos de família logo no primeiro encontro. Por meio de figuras como ela, pude detectar alguns defeitos femininos capazes de cortar a excitação de qualquer um. Não há nada mais desestimulante que uma mulher que exala certo ar de superioridade emocional e insiste em esfregar na cara do pretendente como os homens a magoam.

Veja – A senhora conviveu com monges num mosteiro. O homem confinado num ambiente de celibato é diferente dos demais?
Norah – Muito pelo contrário. Se há alguma diferença, é que as dificuldades desses homens em se comunicar com os outros e suas carências são ainda mais exacerbadas. Eles não podem demonstrar quanto precisam de carinho e afeto, pois essa é a regra nesses locais. É uma pena, porque para mim ficou patente que precisam muito disso.

Veja – A senhora não temia ser desmascarada?
Norah – Eu ficava em pânico com isso. Temia até por minha integridade física, especialmente quando me infiltrei no grupo de terapia – um bando de marmanjos que não escondiam sua raiva das mulheres que os oprimiam. Quanto mais eu fingia, mais me envolvia com esses homens, e o fardo acabou se tornando pesado demais. Ao final, já não agüentava me olhar no espelho e ver Ned na minha frente a cada manhã. Tive um esgotamento nervoso e acabei num hospital.

Veja – Como foi a reação desses homens quando finalmente vieram a saber da farsa?
Norah – Primeiro, eles ficavam embaraçados e se recusavam a acreditar que eu era mulher. Depois, começavam a ver as coisas em retrospecto e juntavam as pistas das quais não tinham se dado conta. "Ah, então é por isso que Ned sempre foi tão bom confidente", diziam. Ou então: "Está explicado por que Ned tinha um jeitinho gay que me incomodava". O fascinante desse processo é que, tão logo vinham a saber que eu era mulher, o modo como me tratavam mudava totalmente. Muitos relaxavam e passavam a se abrir mais. Outros assumiam uma postura mais defensiva. Eu tinha virado alguém de outra espécie, afinal.

Veja – Em algum momento a senhora ficou com vontade de ter nascido homem?
Norah – Sou homossexual, mas nunca tive o desejo de ser algo diferente do que sou. Sou mulher, programada biologicamente para agir e pensar como qualquer outra pessoa de meu sexo. Isso não mudou depois de minha experiência como Ned. Descobri que a realidade oferece vantagens e armadilhas distintas para cada lado. A vida dos homens pode ser muito dura, principalmente no aspecto emocional. Eles são muito isolados em relação aos pais, irmãos, filhos e amigos, pois não comungam sua intimidade com o mesmo desprendimento que as mulheres têm umas com as outras. E, embora isso ajude a compor sua imagem de macho, muitos homens se ressentem da falta de um canal para extravasar seus problemas íntimos. Aqueles com quem convivi num grupo anônimo de terapia masculina estavam ali por causa dessa carência – só em segredo podiam dividir sua vulnerabilidade com os outros. Por outro lado, apesar dessa dificuldade em comungar suas emoções, os homens têm um certo espírito de companheirismo que o feminismo tentou mas nunca conseguiu despertar nas mulheres.
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Depois disto sinto-me sem originalidade para escrever. O que é preciso fazer hoje em dia para chamar a atenção e viver!? Seja como fôr, um brinde a todos os que nos abanam a consciência e os preconceitos - mesmo que criando novos ;-)))).

segunda-feira, outubro 9

O romantismo do risco zero.

Quem não considera importantes pequenas/simples coisas, surpresas, o tornar o usual em especial, o evitar a rotina? Quem não gosta também de se deixar andar redescobrindo nos caminhos a essencia de cada variação? Há por isso alturas em que se detesta ver por perto guias (mapas ou aparelhos de GPS), pensando logo que perdeu o direito de se perder e reencontrar! Há quem diga que quem assim é, é um romantico no que de bom e mau que isso tem!

Uma das facetas com que um romantico moderno (moderno!?) mais tarde ou mais cedo se defronta é a impressão de estarmos a desenvolver uma sociedade cada vez mais aversa ao risco. Isso implica também aversa a mudar e inovar. Implica diminuir a praticabilidade do romantismo! No entanto a história mostra que as pessoas romanticas ou não, não são aversas aos riscos desde que reconheçam as razões de tal exposição ao perigo.

Defendemos e aplicamos com todas as nossas forças um principio da precaução nas empresas e na nossa vida. Como tudo na vida que é levado ao extremo, só pode dar asneirada! Deixamos de concentrar-nos no que é realmente importante na vida. A fixação num objectivo de risco nulo (risco=perigo*exposição) cria nas pessoas uma ansiedade com riscos a nível psicológicos bastante significativos. Uma pessoa excessivamente ansiosa não consegue produzir o necessário e muito menos inovar. Quantos percebem realmente isso? Não critiquemos o principio mas a cegueira na sua aplicação. Ou haverá algo mais que este homem não vê?

Pior ainda é sentir o reflexo desta cultura na família. Vivemos rodeados de pessoas extremamente ansiosas que cresceram em ambiente protegido e criando agora os filhos numa vitrine ainda mais requintada.

Esquecemo-nos que nos penduravamos em telhados, subiamos a àrvores, espreitavamos poços, mexiamos em ferramentas e facas, usavamos fósforos e punhamos a cabeça fora do carro para sentir o vento. Corriamos atrás de carros, penduravamo-nos em camionetas, percorriamos a cidade de bicicleta. Não tinhamos sempre atrás uma empregada ou avó, podiamos tomar as decisões necessárias sem ter um adulto sempre em cima. O que custa nisto é ver que em vez de ensinarmos a subir com os mínimos de segurança, ensinar a utilizar ferramentas, simplesmente se proibe por ser perigoso. E quem tenta pode bem sentir a permanente desaprovação de quem até espera no fundo que algo de mal aconteça para então poder mostrar que sempre tinha razão.

Felizmente, apesar de toda esta parvoice a natureza continua a funcionar e podemos dizer que os miudos fazem o que podem e até reconheçamos que em muitas coisas são melhores que nós eramos na idade deles. É caso para dizer que mesmo nos eventos catastróficos pessoas normais mostram uma resiliência excepcional onde muito "especialistas" esperariam o pior caos.

Deixemo-nos do romantismo do risco zero! Um brinde a todos os que já se aperceberam desta ceguiçe que se generaliza.

sexta-feira, setembro 29

"Déjà vu!" - recuperar algo que já se fez

Finalmente recuperado de um desastre insignificante com consequencias significantes, sentindo o turbilhão de "nadar entre piranhas" ao ter de refazer umas valentes horas de trabalho mais dentro do possível as devidas a esses mesmos dias.

Desnecessário será dizer que é como se a vida parasse no tentar recuperar algo que já se fez mas de que se recorda mais vagamente. "Déjà vu!" Por fim, a exaustão a lembrar que já não se está perto da frescura dos vinte onde "uma directa" pouco afectava!

Assim o tempo fluiu e a vida continua sem ser bem o que se queria, mas fazendo o que se tem de fazer. Frustante ... A importancia do que precisamos e queremos é nestes pós-acidentes passada a outros segundos planos.

Curiosamente, este blackout às preocupações trouxe uma vontade muito mais nítida de decidir e mudar. E os primeiros passos fazem-se já sentir.