segunda-feira, outubro 9

O romantismo do risco zero.

Quem não considera importantes pequenas/simples coisas, surpresas, o tornar o usual em especial, o evitar a rotina? Quem não gosta também de se deixar andar redescobrindo nos caminhos a essencia de cada variação? Há por isso alturas em que se detesta ver por perto guias (mapas ou aparelhos de GPS), pensando logo que perdeu o direito de se perder e reencontrar! Há quem diga que quem assim é, é um romantico no que de bom e mau que isso tem!

Uma das facetas com que um romantico moderno (moderno!?) mais tarde ou mais cedo se defronta é a impressão de estarmos a desenvolver uma sociedade cada vez mais aversa ao risco. Isso implica também aversa a mudar e inovar. Implica diminuir a praticabilidade do romantismo! No entanto a história mostra que as pessoas romanticas ou não, não são aversas aos riscos desde que reconheçam as razões de tal exposição ao perigo.

Defendemos e aplicamos com todas as nossas forças um principio da precaução nas empresas e na nossa vida. Como tudo na vida que é levado ao extremo, só pode dar asneirada! Deixamos de concentrar-nos no que é realmente importante na vida. A fixação num objectivo de risco nulo (risco=perigo*exposição) cria nas pessoas uma ansiedade com riscos a nível psicológicos bastante significativos. Uma pessoa excessivamente ansiosa não consegue produzir o necessário e muito menos inovar. Quantos percebem realmente isso? Não critiquemos o principio mas a cegueira na sua aplicação. Ou haverá algo mais que este homem não vê?

Pior ainda é sentir o reflexo desta cultura na família. Vivemos rodeados de pessoas extremamente ansiosas que cresceram em ambiente protegido e criando agora os filhos numa vitrine ainda mais requintada.

Esquecemo-nos que nos penduravamos em telhados, subiamos a àrvores, espreitavamos poços, mexiamos em ferramentas e facas, usavamos fósforos e punhamos a cabeça fora do carro para sentir o vento. Corriamos atrás de carros, penduravamo-nos em camionetas, percorriamos a cidade de bicicleta. Não tinhamos sempre atrás uma empregada ou avó, podiamos tomar as decisões necessárias sem ter um adulto sempre em cima. O que custa nisto é ver que em vez de ensinarmos a subir com os mínimos de segurança, ensinar a utilizar ferramentas, simplesmente se proibe por ser perigoso. E quem tenta pode bem sentir a permanente desaprovação de quem até espera no fundo que algo de mal aconteça para então poder mostrar que sempre tinha razão.

Felizmente, apesar de toda esta parvoice a natureza continua a funcionar e podemos dizer que os miudos fazem o que podem e até reconheçamos que em muitas coisas são melhores que nós eramos na idade deles. É caso para dizer que mesmo nos eventos catastróficos pessoas normais mostram uma resiliência excepcional onde muito "especialistas" esperariam o pior caos.

Deixemo-nos do romantismo do risco zero! Um brinde a todos os que já se aperceberam desta ceguiçe que se generaliza.

3 Comments:

Blogger augustoM said...

Talvez o risco zero seja uma consequência, de as pessoas cada vez mais terem uma cultura a solo, e o isolacionismo parecer o modus viventis adoptado, onde o egoísmo, aparentemente eremita, estará sempre subjacente nas suas acções, contrapondo-se à cultura do risco, o que cor à vida.
Um abraço. Augusto

10:13 da tarde  
Blogger Em busca da Paz de Espírito said...

Tem toda a razão caro Augusto e está muito bem observado.

Um dos paradoxos do individualismo é (deve ser?) a necessidade de isolar-se do que possa interferir com esse modus vivendi, pois o risco expõe-nos à necessidade de outros que nos socorram e ajudem na recuperação.

5:43 da tarde  
Blogger A Sonhadora said...

É o globalismo em que vivemos, que nos faz esquecer muitas vezes o quão belo e bom é trepar a árvores, e dar um grito valente do cimo dum rochedo e ouvir o rebentar das ondas contra eles...
Mas o homem continua na mesma um sonhador.....e mal de todos quando o romantismo pegar na mala de cartão....e emigrar para outro lado, deixando os nossos corações secos e moribundos...
Um abraço da sonhadora

7:18 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home